terça-feira, setembro 28, 2010

Estação Final



Vivian vestiu uma calça colada, daquelas que se usa para malhar, que marcava despudoradamente sua bunda redonda e firme, calçou o tênis e foi para a praia. Entre um passo e outro, caminhava com o seu corpo de mulher e atraía os olhares de muitos. As suas medidas abusavam da femilidade, seus longos cabelos lisos e loiros voavam com suavidade ao mais leve toque do vento. Qualquer homem faria de tudo para ter uma só noite com ela, muitos e muitos outros, ao conhecê-la de verdade, não a deixariam ir embora jamais.

Ainda assim, Vivian não se importava com os elogios, cantadas ou com os homens que ela teria a hora que quisesse, tudo isso sempre lhe pareceu vazio, nunca serviu para que ela se sentisse melhor. Talvez precisasse de um pouco de autoestima, mas acho que não era esse o caso, ela só queria mais, esperava por algo que fizesse sentido em sua vida, o mundo estava embaçado demais. Quem a olhasse, não conseguiria jamais imaginar quantas peças a vida já teria pregado àquela face sincera e jovem, por quanta coisa ruim ela havia passado. O rosto de menina e o corpo de mulher falavam bastante sobre a personalidade de Vivian: alguém que cresceu com as dificuldades e dores que a vida lhe impôs, mas não perdeu a doçura e o encanto de uma criança, ainda sabia admirar pequenas belezas da vida e valorizar o amor. Força e otimismo eram as suas palavras preferidas, foi assim que ela conseguiu sobreviver às rasteiras que o mundo lhe deu.

Um passo de cada vez, respire, olhe o mar, olhe as estrelas e sinta o vento, isso sempre acalma... Chegava ao final da praia de Copacabana, seguia para o Arpoador, quando passou por um mendigo que sentava em cima de um saco cheio de tralhas, que provavelmente havia levado o dia inteiro para catar, e observava um desses cantores de barzinho que tocava em um dos quiosques. Era tudo que ele tinha. Não lhe importavam as horas ou que dia da semana era. Momento: era tudo que ele queria ter. Vivian parou, fingindo se alongar, para tentar sentir um pouco do que aquele homem passava naquela hora, parado na frente de um lugar onde pessoas comiam, bebiam e davam risadas. E, mesmo sozinho, talvez com fome e com sede, ele estava ali, não pedia nada, não queria mais nada, só ficar sentado, ouvindo a música. Seus olhos brilhavam e era estranho enxergar alguma felicidade no rosto daquele homem.

A vida segue o tempo inteiro, incansável, rumo ao nosso último dia, ao último suspiro, ao último momento. Então, Vivian continuou com seus passos firmes até o Arpoador, enfrentou seu medo de altura, encarou o seu medo do mar, ainda mais à noite. O medo não fazia mais sentido, era pouco. Agora nada mais importa, só a calma, só a paz. Vivian olhou para cima, subiu no alto da pedra e ficou por lá.

Naná Coutinho

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