segunda-feira, agosto 30, 2010

Do amor e da merda



Amar é humano. E é por isso que nenhum amor, nenhuma relação é perfeita, esse sentimento é feito de pessoas e pessoas erram, pessoas têm suas vidas, cada uma com as suas histórias, cada uma com os seus valores e princípios.

É impossível não errar, mas isso não significa que contos de fada não existam. A Cinderela sofreu nas mãos da madrasta e das irmãs malvadas. Branca de Neve foi perseguida pela rainha que, por pura inveja, queria vê-la morta e, por isso, foi obrigada a viver em uma cabana minúscula no meio da floresta, onde ela mal cabia, e virar empregadinha de sete anões folgados e tarados. A Bela precisou dar uns "pegas" em um monstro horroroso e bafeta para o cara ficar bonitão. Enfim, o que quero dizer é que até nos contos de fada desgraças acontecem. Se um dia eu tiver filhos, não vou deixar de ler essas histórias para eles, mas vou fazer questão de explicar que o "felizes para sempre" não significa perfeição, mas, sim, superar a merda maior e ficar bem, ficar junto de quem se ama. Prestem bem atenção: não digo que a vida gira em torno de um amor e que precisamos de um príncipe encantado para termos um "final feliz", mas digo que o conto de fada pode representar um belo exemplo de relação amorosa, se não o virmos como "pau e pedra".

A nossa felicidade, claro, não depende especificamente de alguém, mas esse papo de dizer que a felicidade de cada um está dentro de si mesmo é muito Paulo Coelho, né?! Nossa felicidade depende, sim!, de fatores externos. Se tomamos um "pé na bunda", ficamos fodidos de grana, somos traídos, nós ficamos tristes, toneladas de merda derramam-se sobre as nossas cabeças, e isso é tão HUMANO! Até onde eu sei, nesse mundinho cão em que fomos criados, quem ama alguém quer algo em troca: quer amor, quer carinho, quer fidelidade, quer amizade, quer respeito, quer companheirismo e mais uma série de coisas. O amor é uma TROCA. Se essa troca falha, se faltamos com algum desses valores e sentimentos, graças a esse refúgio que temos como seres humanos, chamado "erro", a única saída é "correr atrás" do prejuízo que causamos ao outro. Magoar alguém que se ama é pior do que ser magoado, tira a paz. É nessa hora que podemos fazer o que não poderíamos normalmente, que engolimos nosso orgulho e fazemos de tudo para fechar a ferida que abrimos, por mais que saibamos que as cicatrizes ficam.

É completamente humano que o ser atingido sinta-se mal, sinta-se menos, sinta-se rejeitado e fique perdido, sem saber o que pensar quando a tal "troca" tropeça. A confiança fica completamente estremecida e isso não muda sem que o tempo ajude, e o tempo não ajuda se o indivíduo que fez a cagada não se empenhe em limpá-la. Só um paninho não resolve, é preciso muito esforço para deixar tudo impecável, na medida do possível, para que não se sinta o mínimo cheiro de merda no ar. É preciso também um esforço de quem está cagado, o ser emplastrado não pode entrar numa "onda" de deixar que as merdas que estão em sua cabeça continuem transbordando. Se o cagão se dispôs a limpar, deixe-o cumprir com a sua tarefa e dê uma "mãozinha", se necessário. O trabalho maior TEM que ser dele, claro, mas você pode ajudar. Isso também é amor.

Naná Coutinho

Sem comentários: